Tráfico foi expulso para dar lugar a indústria do petróleo

Um importante aparelho faz parte do desenvolvimento de Maricá sendo parte de um incremento dos grandes projetos no município.Hoje ele opera voos de pequeno e médio porte na aviação geral, executiva e offshore. Localizado em uma região privilegiada: a 60 km da capital, a 40 km do Comperj, a 100km de Cabo Frio, a 128 km de Búzios e a apenas 200 km, em linha reta, dos campos do pré-sal da Bacia de Santos. Trata-se da menor distância entre o continente e as plataformas dos Campos de Lula e Libra, o que torna o terminal estratégico para as operações de logística na atividade offshore.
Mas não foi sempre assim. O local inaugurado em 1972, abrigou escolas de aviação, mesmo o espaço sendo da prefeitura, o município não tinha qualquer gerência pelo que acontecia lá. Para poder operar como acontece atualmente, diversos fatos aconteceram até que tudo fosse resolvido. De acordo com Lourival Casula, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, na gestão do ex-prefeito Washington Quaquá, a prefeitura tinha domínio do aeródromo, mas na verdade quem comandava as atividades eram as escolas de aviação. ” Não tínhamos gestão sobre o que era feito no aeródromo. Éramos impedidos por pessoas que estavam lá dentro. Começamos a investigar e isso incomodou muita gente”, esclarece.
CPI investiga ligação com o tráfico e mortes
Em 1999, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) foi aberta . A então deputada federal Laura Carneiro foi sub-relatora para a região sudeste. A CPMI do Congresso Nacional tinha um capítulo específico pra Maricá “Conexão Atibaia/SP – Maricá/RJ” como rota de tráfico de armas e drogas.
Segundo a deputada, no depoimento de pessoas ligadas ao aeroporto de Maricá e à escola de aviação Fab, a CPI do Narcotráfico encontrou vários indícios de envolvimento com tráfico internacional de drogas.
Segundo a CPI, o aeroporto de Maricá não possuía qualquer controle sobre produtos que desembarcavam ou embarcavam, o que facilitaria o uso por narcotraficantes.
A CPI descobriu ainda um treinamento da FAB (Força Aérea Brasileira) feito no aeroporto sob suspeita de ser utilizado pelo narcotráfico internacional. “A Aeronáutica não poderia fazer exercícios noturnos em uma pista que não funciona à noite”, afirmou a deputada. Segundo o Centro de Comunicação Social do Ministério da Aeronáutica, é comum aviões da FAB serem usados em treinamentos, 24 horas por dia, em situações diversas, em todo o Brasil.
No entanto, ainda segundo o centro, a 5ª Força Aérea, no Estado do Rio, estava em recesso, e a existência da missão, assim como seus tripulantes e objetivos, não pôde ser confirmada.
Para a CPI houve ligação entre o treinamento e os crimes ocorridos em Maricá com a quadrilha que usava aviões da FAB para enviar cocaína à Europa. A quadrilha foi descoberta quando foram encontrados 33 quilos de cocaína em um avião da FAB que havia decolado da Base Aérea do Galeão, no Rio, e fazia escala em Recife, antes de seguir para a Espanha.
Segundo informações contidas em dossiê encaminhado à CPI pelo então delegado Anestor Magalhães, da 82ª Delegacia de Polícia o treinamento consistiu no lançamento, de um avião, de 16 volumes de cargas -de conteúdo não identificado. De acordo com o dossiê, uma Kombi da Aeronáutica recolheu o material lançado pelo avião utilizado no exercício.
O dossiê informa também sobre uma série de crimes ocorridos na cidade desde o dia do treinamento. O primeiro foi o assassinato do italiano Franco Peliciota, acusado de ligação com o tráfico de drogas, morto a tiros no mesmo dia da operação no aeroporto. Quatro dias depois, o tenente-coronel aviador Paulo Roberto de Souza Machado, da FAB, levado por um bando armado quando saía do aeroporto, foi torturado e assassinado.
Segundo a polícia, os assassinos do militar utilizavam duas Kombis. Há suspeitas de que uma delas seria a mesma usada durante o treinamento no aeroporto, já que uma testemunha reconheceu um brasão da FAB na porta do veículo em que Machado foi levado.
Três semanas depois, ocorreu outro crime na cidade: o assassinato de Waldevir Pereira, gerente do hotel que pertencia a Peliciota.
Acidente com juiz
Um fato chamou atenção e gerou grande tumulto. Foi o acidente com um bimotor.Carlos Alfredo Flores da Cunha, de 48 anos, Juiz de Direito da 5ª Vara de Órfãos e Sucessões da Capital, e Adelmo Louzada de Souza, que não teve a idade divulgada, morreram no local. A aeronave decolou de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e segundo notícias da época, teria sido impedido de pousar em Maricá. Bombeiros do quartel de Maricá e agentes da Defesa Civil, com a ajuda de pescadores, retiraram os corpos das vítimas da água. Uma testemunha na época afirmou que viu o avião sobrevoando a cidade e que ele havia sido impedido de pousar no aeroporto. De acordo com as investigações e laudo da FAB, o avião não estava com a manutenção em dia e cheio de irregularidades.
O fato acabou transformando o prefeito Washington Quaquá e os secretários Lourival Casula e Fabricio Bitencourt, além de oito guardas municipais, em réus num processo evocando o artigo do código penal que pune quem “atrapalhar o tráfego aéreo”. Com o agravante de imputar a eles a morte do juiz.
Quaquá teve seu passaporte apreendido pela justiça federal e até hoje está proibido deixar o país, além de ter que se apresentar um juízo de 15 em 16 dias. “De todas as coisas absurdas que já vi e sofri, essa é uma das que mais me entristeceu. Porque enfrentei os traficantes que a décadas comandavam o aeroporto e ao invés de ganhar um prêmio, sou processado e tenho minha liberdade restringida por “atrapalhar o tráfego aéreo”, quando acabei foi com o “tráfico de drogas aéreo”,afirma Quaquá. E completa: “Mas o processo tem pelo menos a função de desmentir a absurda acusação de que a morte trágica é lamentável do juiz Carlos Alfredo Flores tinha sido provocada por nós, coisa que foi amplamente divulgada na mídia e infelizmente não será desmentida com o mesmo destaque”, finalizou.
Reabertura
Foi na gestão do então prefeito Washington Quaquá, que o município se empenhou em retomar o espaço. E esse ano completamente reformulado, com novos espaços e instrumentos, o Aeroporto Municipal de Maricá foi reaberto para operação. O espaço é base para operações offshore no Leste Fluminense, conta com uma pista útil de 1.200 metros, administrada pela Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar), vinculada à Prefeitura.
O prefeito Fabiano Horta agradeceu o esforço comum e o entendimento da importância da atividade econômica para desenvolver a região. “Este aeroporto simboliza uma das dimensões do trabalho que temos realizado em conjunto, ajudando o desenvolvimento de Maricá e região. Isto não é fruto do vácuo e nem de uma atitude solta, é fruto de um ato de coragem e determinação do ex-prefeito Washington Quaquá, que no passado reempoderou e reestatizou um aeroporto que nunca havia sido privatizado. A retomada deste aeroporto foi fundamental para que nós pudéssemos, a partir do trabalho desenvolvido pela Codemar e pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, entregar um novo aparelho, com uma nova natureza, que tem uma nova dinâmica a se estabelecer”, ressaltou.
Com capacidade para receber 500 passageiros por dia e preparado de acordo com as normas reguladoras para a operação offshore, o novo Terminal de Passageiros (TPS) conta com sala vip, sala de revista, duas salas de briefing, posto médico, áreas separadas para embarque e desembarque, check-in e espaço para um café.
De acordo com o presidente da Codemar, a entrega das obras do aeroporto foi dividida em três etapas. “Entregamos o terminal de passageiros, a pista, as taxiway e o pátio revitalizados, preparados para receber as operações offshore. Revitalizamos o hangar central e fizemos toda a parte de regulação e regularização tanto do aeroporto, quanto da própria Codemar, para poder operar no espaço”.
A segunda fase já está em andamento, e consiste na obra para a construção de dois novos hangares, ampliação do pátio, balizamento noturno, Serviços de Telecomunicações e de Tráfego Aéreo (EPTA) e Serviço de Prevenção, Salvamento e Combate a Incêndio em Aeródromos Civis (SESCINC).
A terceira fase prevê uma ampliação do aeroporto para uma operação maior, de carga. “A ideia é fazer uma duplicação de pista, com um potencial maior, para comportar aeronaves e terminais de carga”, comentou.
Centro de Controle Operacional
Em parceria firmada no mês de abril com a Prefeitura, através da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar), a empresa italiana Leonardo ficou encarregada de trazer melhorias para área de segurança urbana, além de manutenção e treinamento de aeronaves no município. Dentro deste contexto, foi inaugurado o Centro de Controle Operacional (CCO) do Aeroporto de Maricá.
O espaço, que já passou por prova de conceito, compreende sistemas para coordenar o fluxo de operações com um dashboard (painel) onde são exibidas as câmeras do aeroporto (podendo ter suas imagens detalhadas e ampliadas), mapa de georreferenciamento, sistema de geração de alarmes com sinal sonoro e indicação de ocorrências no mapa, ferramentas para geração de relatórios e chamada em grupo para cada operador em campo.
Entre as funções do CCO, está o acompanhamento dos horários dos voos de chegada e saída, monitoramento do movimento do aeroporto e facilitação para o atendimento das ocorrências.
Hoje, depois de uma saga que fez uma verdadeira limpeza e um dos pontos mais obscuros da história da cidade, da orgulho de ver o aeroporto de Maricá todo remodelado e em intensa atividade de apoio offshore a produção de petróleo e atraindo empresas de todo o mundo. O governo Fabiano Horta avança na utopia de um novo e moderno aeroporto, transformando sonhos de desenvolvimento e geração de empregos em realidade.

Foto: Mayara Rodrigues, Rogerio Reis
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