Profissionais essenciais mostram como tem
sido viver e trabalhar em meio a crise
Durante o período de isolamento social, alguns serviços não pararam e foram fundamentais para o funcionamento de toda a sociedade. São profissionais de serviços essenciais como os policiais militares, bombeiros, guardas municipais, motoristas, profissionais da limpeza entre outros que não param suas atividades mesmo durante uma pandemia. Além, é claro, dos profissionais na linha de frente dos hospitais e unidades de saúde. Todos concordam que a vida mudou de forma drástica e repentina. E os dias foram tomados pela mistura de preocupação, medo, distanciamento, muito trabalho e companheirismo.
Profissionais de saúde

Quando ouvimos falar em Coronavírus a primeira coisa que nos vem à cabeça são as recomendações de distanciamento social, única medida eficaz para desacelerar a contaminação nesse momento em que ainda não existe tratamento nem vacina específica para o novo vírus. Mas como tem sido para os profissionais essenciais trabalhar nesse período de pandemia, onde muitos têm se infectado exercendo suas funções?
Para a médica Alessandra Andrade, pós graduada em Saúde da Família e Geriatria, cada dia tem sido de aprendizado e superação. “Durante os plantões, vivemos um mix de emoções. Aqui em Maricá, a Secretária de Saúde, dra Simone e o prefeito Fabiano Horta seguem firmes as recomendações dos órgãos sobre prevenção e tratamento da Covid-19. Mas apesar de tudo, ainda vemos pelas ruas muitas pessoas que não seguem e não dão a devida importância ao problema, não só no Brasil como no mundo. Infelizmente só passam a acreditar ou seguir as orientações quando a dor pela contaminação da doença se torna um rosto conhecido. Então se eu posso dar um conselho é que acreditem e sigam as recomendações e fiquem em casa!”, diz a médica moradora de Itaipuaçu e funcionária da rede pública de Atenção básica e da emergência da UPA de Inoã.
“As equipes têm atuado incansavelmente e muitos colegas não estão indo para casa por medo de contaminar pais idosos ou filhos. Mesmo tomando todos os cuidados existe esse risco e muitos estão morando em pousadas durante esse período mais crítico. Graças a Deus posso voltar para casa todos os dias, mas antes de entrar sigo com cuidados redobrados quanto a minha higienização. Nesse período não tenho tido contato com minha família, infelizmente, mas é necessário que seja assim pelo menos por enquanto. Mesmo utilizando todos os equipamentos necessários para proteção e cuidados que nos é disponibilizado, temos medo de levar essa doença para casa e infectar nossas famílias, mas precisamos continuar trabalhando. Os números estão crescendo porque parece que as pessoas não estão entendendo que o isolamento social é a arma mais eficaz nesse momento. Todo dia pedimos força e sabedoria a Deus para que possamos vencer cada plantão. A cada informação nova sobre a doença precisamos estudar muito, nos atualizar todos os dias já que não sabemos ao certo como o vírus se comporta”. E comemora. “Apesar de tudo estou feliz em estar ajudando e tratando até companheiros de trabalho que adoecem. Cada paciente recuperado na unidade é muito festejado porque é a festa da vida”.
As equipes das unidades de saúde não são só médicos e enfermeiros. Todos os envolvidos desde o primeiro atendimento ao paciente têm extrema importância para o trabalho como maqueiros, motoristas, profissionais de atendimento, laboratório e RX, além dos profissionais da limpeza que higienizam tudo a todo momento.
Fisioterapeutas também são importantes para pacientes internados, quando necessário no tratamento de casos graves da Covid-19, ajudando na regulagem dos aparelhos e na terapia respiratória em caso de enfermidades que comprometam muito a função respiratória. Juntos formam uma equipe multidisciplinar para que seja feito um procedimento efetivo e de excelência.
A enfermeira Fabiana Christian acostumada com a rotina de atendimentos em uma unidade de Pronto Atendimento de emergência é outra profissional que atua na linha de frente no município. Funcionária da UPA há 7 anos, a enfermeira Fabiana foi infectada pelo vírus e teve a situação agravada tendo que ser internada. “Fiquei muito mal e internada por 5 dias na UPA de Inoã, onde trabalho. Em alguns momentos realmente achei que não ia suportar até por causa da dificuldade respiratória. Os sintomas são muitos. Esse vírus é muito contagioso e mata muito rápido. Infelizmente acontece da gente se contaminar por estar na linha de frente. Posso dizer que não é brincadeira. Me contaminei, mas graças a Deus consegui vencer”. E continua. “As pessoas ainda não se conscientizaram da necessidade de seguir tudo o que está sendo passado. A gente ainda vê muita gente minimizando a doença. Orientamos a todo momento, mas muitos não aceitam e não cumprem as orientações. Damos todo o suporte, mas sem ajuda das pessoas a situação não vai mudar. Estamos lutando contra um mal invisível. Em alguns momentos a gente chega no limite máximo de exaustão, mas com ajuda de outros profissionais seguimos acreditando que vai dar certo”. E explica porque voltar ao trabalho depois de curada não foi difícil para ela. “Não tive medo de voltar ao trabalho, pelo contrário não via a hora de retomar minha vida e poder ajudar as pessoas principalmente agora que sei como é difícil para o paciente passar por isso. Voltar não foi mais difícil por ter sido contaminada. Entendo o quanto somos necessários, apesar do medo, mas estou tomando ainda mais cuidado do que antes porque não sabemos ao certo se estamos imunes uma vez que já fomos infectados”, explica Fabiana.
Esses profissionais também têm recebido também apoio profissional por parte do município nesse momento. “Todos os profissionais estão sendo incansáveis no cuidado, tratamento, carinho e atenção aos doentes. Estamos todos fragilizados com a situação, mas recebendo todo suporte para continuar o trabalho como tem que ser”, comenta a enfermeira. “Estamos recebendo da secretaria de Saúde do município, além de material para trabalho, apoio psicológico para que possamos passar bem por esse momento tão delicado para todos nós”, esclarece dra Alessandra.
Profissionais de segurança

Se profissionais da saúde têm sido fundamentais e incansáveis durante esse período, podemos dizer que para policiais, bombeiros e guarda-municipais o trabalho também tem sido árduo. Desde que as medidas de distanciamento foram adotadas nas cidades, esses profissionais têm sido importantes para tentar fazer com que as regras sejam seguidas. Policiais militares, especialmente do Proeis, têm dado apoio ao efetivo da guarda municipal de Maricá sejam nas barreiras sanitárias ou mesmo orientando e evitando a circulação de pessoas em áreas públicas interditadas neste momento como praias, praças e aparelhos das academias ao ar livre.
Agentes da guarda municipal têm atuado intensamente em toda cidade. Desde o início eles trabalham com todos os equipamentos de segurança necessários para esse momento e recebem também o apoio de uma viatura que percorre o município fazendo a assepsia dos profissionais que trabalham nas ruas. “Saímos todos os dias de casa deixando nossos familiares apreensivos, pois não sabemos como iremos retornar uma vez que estamos lidando com um inimigo invisível e temos medo de levar o vírus para nossas casas e contaminar as pessoas que amamos. A cada retorno de plantão tomamos cuidados redobrados com a farda e itens de trabalho que são tirados fora de casa porque estamos a todo momento em contato com a população tentando fazer com que as normas sejam respeitadas. Ainda encontramos algumas resistências e tentamos fazer com que as pessoas respeitem o uso da máscara e mantenham o distanciamento mínimo de 1,5 das outras. Tem sido bem intenso o trabalho, mas seguimos fazendo tudo para tentar organizar as áreas públicas e fazer cumprir as leis”, diz Liana.

No quartel dos Bombeiros, a rotina foi adaptada para evitar aglomerações. Segundo o comandante dos Bombeiros do Destacamento de Maricá, capitão Rigo, a unidade está seguindo as definições de procedimentos operacionais durante a pandemia conforme orientações do Comando-Geral, de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde. “A corporação regulamentou protocolos que conduzem a atuação dos nossos militares durante o serviço, reforçando questões relacionadas à utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e higienização/desinfecção de militares, viaturas e equipamentos”, explica o comandante.
“Também estamos adaptando nossas rotinas particulares diárias a fim de evitar a exposição ao Covid-19 e a proteger nossos familiares, de forma que possamos continuar cumprindo a nossa missão junto à população. Por isso, é importante que, podendo, as pessoas fiquem em casa. Continuamos a postos e sem medir esforços para dar continuidade ao nosso trabalho sempre preservando a saúde dos nossos bombeiros”, enfatiza capitão Rigo.

Comércio e atendimentos fazem a cidade funcionar

E o como está sendo o trabalho dos profissionais que levam pessoas todos os dias em transportes públicos. João Antônio, motorista da EPT, tem trabalhado normalmente e nos falou sobre essa mudança na rotina. “ No início o movimento era maior nos ônibus com pessoas indo para praia e indo para o centro de Maricá, mas agora notei que reduziu bastante o número de passageiros nos ônibus. Desde o início a empresa deu equipamentos de segurança e álcool em gel para os funcionários. Nossos ônibus são desinfetados e higienizados a cada parada no terminal rodoviário. Quando o despachante vê que o movimento está maior, ele coloca mais carros para circular porque a ordem da empresa é de não andarmos com os ônibus lotados. Além disso fizemos também um trabalho de conscientização com os passageiros entregando folhetos explicativos e a população parece que aprovou e está colaborando. Estamos todos confiantes de que isso vai passar logo”, comenta João.
Já a atendente de farmácia Simone explica como tem sido trabalhar em meios a tantas informações sobre o novo vírus. “ Estamos preocupados e com medo, mas entendemos que seguindo todas as recomendações reduzimos o problema da contaminação. Desde o início nossa chefe disponibilizou equipamentos de proteção e adotou procedimentos, na farmácia, para manter o afastamento mínimo entre nós e os clientes”, fala Simone.
Com o aumento das vendas on line e serviços de entregas fez com que o número de profissionais que fazem esse tipo de atendimento também crescesse na cidade. Sérvio Leopoldo Neto trabalha como entregador de alimentos e nos conta como tem sido os dias. “ Tomamos todos os cuidados para que pudéssemos trabalhar com segurança. As entregas são feitas em 2 períodos do dia e trocamos máscaras a cada turno. Os uniformes são trocados todos os dias e a higienização também é feita a cada entrega. Ver a satisfação e gratidão dos clientes a cada entrega realizada é o que nos motiva a seguir mesmo diante do medo”, se orgulha Neto.
Já Rodrigo Fagundes é o responsável pelas equipes de varrição, coleta e resíduos do município de Maricá e teve que adaptar as equipes que trabalham nas ruas. “Desde o início desse período reduzimos o número dos profissionais nas ruas durante o dia e passamos para a noite que geralmente está mais vazia e longe do contato de pessoas. Temos uma van que leva os profissionais em casa devido o horário. Disponibilizamos todos os equipamentos de segurança para usarem durante o turno de trabalho e temos um carro de apoio que circula pela cidade fazendo a higienização dos funcionários aumento assim a proteção de nossa equipe que não pode parar nesse período”, esclarece.
Mesmo diante de tantas mudanças e incertezas, esses trabalhadores seguem como peças fundamentais superando os obstáculos em dias tão difíceis dessa pandemia mostrando quem são os verdadeiros heróis dessa crise.

NOTA DE FALECIMENTO
A enfermeira Denise Gomes, de 42 anos foi mais uma vítima do coronavírus em Maricá. A enfermeira da UPA de Inoã foi a primeira profissional de Saúde do município vitimada pela doença, contraída justamente durante o exercício da atividade à qual tanto se dedicava. De atuação exemplar, Denise ficou alguns dias internada em uma unidade de saúde de Niterói e faleceu no dia 25 de abril. A equipe Maricá Já lamenta e se solidariza a todas as famílias que estão perdendo a guerra contra a doença.

Fotos: Divulgação