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Com o distanciamento social muitos comerciantes, microempreendedores e autônomos tiveram que se reinventar para sobreviver em meio a pandemia.

O que ninguém pensou em viver um dia aconteceu e de repente o mundo parou! Escolas sem aulas, empresas vazias, restaurantes fechados, praias e espaços públicos interditados. Nenhum evento pode acontecer. Campeonatos parados e até as Olimpíadas de Tóquio teve que ser adiada. Sair somente para fazer o essencial. Mas como sobreviver sem renda em meio a tudo isso?

Esse foi um dos primeiros desafios que tivemos que enfrentar, mudando de forma repentina o jeito de trabalhar e viver já que o distanciamento social é a única arma contra o novo vírus COVID-19. Somente os serviços essenciais não foram interrompidos e esses trabalhadores continuaram suas atividades. Quem não faz parte desse grupo teve que começar a trabalhar de casa. Alguns conseguiram se adaptar bem à nova rotina, mas muitos não tiveram saída a não ser se reinventar.

Eventos e serviços também mudaram

Os profissionais da área de eventos foram um dos grupos de mais afetados pelo distanciamento social. Com shows e festas suspensas, muitos profissionais precisaram conseguir uma renda fazendo o que já sabiam e com materiais que já tinham. Foi dessa forma que a profissional autônoma Vanessa Soares conseguiu continuar seu trabalho. Ela e o marido trabalham com produção de brindes e ornamentação de festas, mas com esses eventos paralisados passaram a fazer kits de decoração para festas em casa para clientes que não abriram mão de fazer um bolinho com a família. Vendo a grande procura por máscaras de tecido, também começou a confeccionar máscaras personalizadas, adulto e infantil, com o material que antes usava para personalizar brindes. “Como muitos clientes cancelaram pedidos de brindes e ornamentação, tínhamos que arrumar um jeito para conseguir trabalhar e ganhar dinheiro.

Foi assim que surgiu a idéia de produzir as máscaras, pois vimos a dificuldade que algumas pessoas estavam tendo em comprar as máscaras para se proteger. Como tínhamos material disponível resolvemos fazer. A divulgação foi feita através das nossas páginas nas redes sociais. Os clientes foram aparecendo e indicando para outros, daí em diante os pedidos foram em sua maioria por indicação. As vendas são feitas pelo whatsapp e facebook e os pedidos são entregues mediante agendamento. Nos primeiros 11 dias vendemos quase 500 máscaras que entregamos em vários pontos do município”, explica Vanessa.

Para o churrasqueiro João Ernesto dos Santos Junior, conhecido em Maricá como Junior Marreco, acostumado em preparar churrasco para grandes comemorações viu que com o distanciamento social o jeito de continuar ganhando dinheiro era fazer opções pequenas para que seus clientes pudessem continuar saboreando suas especialidades em casa e ele conseguir uma renda. Momento muito difícil já que teve que cancelar quatro eventos grandes e não tem muito o que fazer.  “Os clientes e amigos me deram a ideia de fazer o churrasquinho delivery, onde já levo os espetinhos temperados prontos para assar. A divulgação é feita através das redes sociais e whatsapp. Normalmente os pedidos são feitas de 10 a 15 entregas por dia nos fins de semana”, relatou.

Até mesmo a compra e venda de peças para automóveis mudou. Para o proprietário de uma revendedora de peças, Daniel Figueiredo esse é um momento muito delicado para o comércio. Mas a prioridade são as vidas e definiu uma estratégia para manter os empregos de todos os colaboradores. “Como o fluxo de clientes caiu, passamos a otimizar o tempo e para evitar aglomerações contratamos serviços de motoboys para delivery dos produtos e assim geramos até mais emprego. Os serviços presenciais foram agendados respeitando os limites de distância. O horário de trabalho foi reduzido e focado no período mais produtivo de acordo com os relatórios da empresa, fazendo com que os custos de luz e água, por exemplo diminuíssem”, comentou.

Ainda segundo ele, a estratégia dá chance de trabalho para evitar demissões e lembra dos cuidados. “Redobramos os cuidados com higiene e proteção dos colaborados e clientes. O momento é de serenidade, temos que entender que a vida é o bem maior que está envolvido e crises são passageiras”, finalizou.

Escolas e cursos passam por transformação

E o que dizer das escolas? Lugar cheio de vida com crianças e jovens, que de repente foram tomadas pelo silêncio. A suspensão das aulas presenciais fazeram com que professores criassem novos métodos de ensino, agora à distância. Salas de aulas virtuais foram criadas e alí um espaço de aprendizado e reencontro, onde professor virou uma espécie de youtuber para seus alunos.

“Chegar na escola, lugar onde costumamos ver crianças felizes a todo o tempo cantando, brincando e aprendendo com seus professores, de repente dar lugar ao silêncio não é fácil. É difícil até falar sem me emocionar”, conta Deise Correa de Mello diretora de uma escola com turmas do berçário ao Ensino Fundamental. “Como vimos que o período de distanciamento era importante que fosse cumprido e iria demorar, procuramos junto com nossa equipe a melhor ferramenta para retomarmos as aulas e treinamos os professores para que nossos alunos e suas famílias conseguissem dar continuidade ao trabalho já iniciado na escola. A aceitação foi boa, com algumas poucas dificuldades, mas sempre damos os suportes necessários para ajudar. As crianças ficam muito felizes, como nós, quando se encontram mesmo que virtualmente e também se adaptaram bem a nova realidade”, diz a diretora. A coordenadora da escola completa. “Coordenar esse trabalho da equipe também tem sido um desafio enorme! Estamos aprendendo juntos. Professores, pais e alunos estão de parabéns”, diz Mariana Ceia.

Viviani Silveira Cardoso é mãe do pequeno Matheus de 4 anos, matriculado na Educação Infantil de uma unidade particular da cidade e conta que no início da pandemia  recebia um vídeo semanal para o filho, além de atividades a serem feitas. Mas devido a uma deliberação da Secretaria de Educação do Estado, as atividades passaram a não ser obrigatórias e sim sugeridas. Para ela, manter esse contato é importante nesse momento porque seu filho sente falta da escola, dos amigos e professores, e fazer as atividades orientadas pela professora é muito melhor fazendo com que mate um pouquinho a saudade de tudo. “Como sou professora não foi tão complicado lidar com essas aulas em casa por já saber como ser trabalhado. Acredito que para quem não é professora tenha sido um pouco mais complicado. Normalmente é passada uma sugestão de atividade a ser realizada para que eles não fiquem sem ter o que fazer e meu filho faz super empolgado”, comentou.

Esse tem sido um período de aprendizado também para os professores que tiveram que mudar suas estratégias de ensino como explicou Pricila Sodré, professora do 3º ano Ensino Fundamental. “Nunca imaginei que pudesse trabalhar com home office. Tem sido um momento desafiador muito grande, mas com esforço e trabalho em equipe tem se tornado possível. Com as aulas à distância pais, alunos, professores e todo o corpo educacional se reinventa e está mais próximo criando a autonomia necessária para uma educação com qualidade e acessível. Me sinto feliz por estar conseguindo auxiliar meus alunos e suas famílias neste momento tão difícil para todos nós”, esclarece.

Para a coordenadora de um curso de idiomas, Soraya Asturiano ver a escola fechada, a princípio, foi muito triste para todos, mas logo viu que teriam que se reinventar para não deixar os alunos sem aulas. A equipe fez algumas reuniões online e todos resolveram arregaçar as mangas para que pudessem retomar as aulas pelo modelo online. “Optamos por não entregar para nossos alunos aulas gravadas. Nossas aulas são ao vivo onde o professor e os alunos interagem como no presencial, mas a distância. Utilizamos para isso uma plataforma de web conference com os livros, áudios e vídeos da rede de ensino para apoio”, explica.

Segundo ela, a maioria dos pais e alunos estão gostando bastante. “Alguns poucos tiveram dificuldade de conexão por conta da internet, mas de modo geral a aceitação foi muito boa. Reflexo disso são as mensagens recebidas pela unidade”, comemora.

Itens essenciais

Os desafios para os comerciantes têm sido muitos e as formas para conseguir driblar as dificuldades também, mesmo para os comércios que prestam serviços essenciais tiveram que mudar suas regras e se adaptar à nova realidade.

A procura para produtos de alimentação tem sido grande, principalmente nos comércios que fazem entregas em domicílio. O microempreendedor João Pedro Padilha que trabalha com produtos de Hortifruti viu seus pedidos de entrega aumentarem muito em pouco tempo e também mudou sua estratégia de entregas. “Nossa maior forma de divulgação sempre foram as redes sociais e com essa situação os números de pedidos dobraram. Redobramos os cuidados com nossos funcionários e durante as entregas. Também tivemos que contratar mais dois para poder dar conta de tudo e dividimos as entregas em 2 turnos diários. Muitos clientes nos indicam a outros e também fazem pedidos para que sejam entregues nas casas dos pais ou parentes idosos. Nos alegra poder trabalhar ajudando as famílias nesse momento de tanta preocupação”, esclarece João Pedro.

Maurício Freitas, gerente da empresa de água Pura Energia, viu a necessidade de expandir a forma de vender seu produto. “A princípio trabalhávamos somente com venda de garrafões de água para os comércios da cidade revenderem. Logo em seguida, com aumento de procura, começamos a abrir lojas próprias onde as pessoas podiam comprar e retirar, pois não tínhamos entrega em domicílio. Mas com a situação da pandemia e com a necessidade de distanciamento social, implementamos o Disk Entrega e desde então os pedidos têm aumentado a cada dia já que muitas pessoas estão em casa por conta de toda situação”, esclarece Maurício.

E o que dizer das farmácias que foram um lugar também muito procurados por pessoas desesperadas por medicação e equipamentos de proteção?

A empresária e farmacêutica Nathália Silva, conta que com a pandemia o movimento em sua farmácia aumentou bastante. “Logo no início do distanciamento social os pedidos para entrega aumentaram muito. Também notamos que a cada notícia que viam, as pessoas corriam para comprar medicamentos e itens para higiene e proteção sem necessidade. Com isso começamos a ter falta de medicamentos e produtos de baixo custo como paracetamol, dipirona, máscaras, álcool e luvas. Por isso colocamos limites de venda desses produtos por cliente para que outras pessoas tivessem acesso também. Nossa equipe passou a usar também equipamentos de proteção para trabalhar com mais segurança e respeitando os limites de espaço e clientes dentro da farmácia”, explica.

A pandemia mundial nos mostra a cada dia como o uso das novas tecnologias têm sido importantes nas diferentes formas de trabalho e relações, além de auxiliar as mais diversas situações em um mundo cada vez mais globalizado e desafiador.

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