Nas ondas do mar de Maricá:Desbravando o Oceano Atlântico

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Equipe de Pesquisa:
Maria Penha de Andrade e Silva – Historiadora
Renata Gama – Arquiteta Urbanista
Renata Toledo Pereira – Mestre em Educação e Historiadora

A cidade de Maricá é conhecida pelas belas praias e lagoas, detentora de um vasto
litoral, com extensão de 41,10 km2, entre Itaipuaçu a Ponta Negra, sendo banhada pelas
águas do Oceano Atlântico, que é o segundo maior oceano do mundo que, por sua vez,
está localizado entre os continentes americano, africano e europeu. Cada canto do litoral
é rico em biodiversidade e histórias, que constituem a identidade do povo maricaense,
sendo navegado por indígenas, portugueses, africanos, naturalistas…
Nesse sentido, Ponta Negra, no extremo leste, possui escarpas, costões rochosos
e a gruta da Sacristia, uma formação geológica singular, onde foi montado o primeiro
presépio de que se tem notícia. Podemos encontrar, na localidade, o Farol de Ponta Negra,
de propriedade da Marinha do Brasil e inaugurado no ano de 1909, em uma elevação,
com cerca de 60 metros acima do nível do mar, onde é possível ver a curvatura da Terra.
Cabe ressaltar que uma das explicações para o nome do local é derivado da existência da
região de costa e pedras negras.
Além de navios portugueses, em decorrência da ocupação colonizadora do
território, no século XIX, a região foi rota de embarcações com negros escravizados,
provenientes do continente africano, inclusive, com desembarque, visando o envio de
cativos para as fazendas de Maricá, que necessitavam de mão-de-obra. Durante essas
viagens, os navios trouxeram o crustáceo “percebes” em seus cascos, denominado pela
população local de “pé-de-porco”, sendo pescado por muitos indígenas, uma prática
considerada muito perigosa.
Os saberes dos povos indígenas, transmitidos de geração a geração, foram cruciais
para o conhecimento do território e do seu litoral, devido à noção de caminhos e serventia
das plantas, confecção de canoas, formas de caça e pesca.
Em Itaipuaçu, no extremo oeste, divisa com o município de Niterói, temos a praia
oceânica de mesmo nome, integrante do Parque Estadual da Serra da Tiririca – com a
existência de várias espécies endêmicas –, em que é possível encontrar uma areia rara,
formada por pequenos grãos de cor branca. Encontra-se na região a famosa Pedra do
Elefante, um mirante que era utilizado pelos indígenas como meio de observação
privilegiada na defesa de possíveis ataques.
Conta-se que navegantes do século XVI confundiam a Pedra do Elefante com o
Pão de Açúcar, já que lembrava o formato da caixa que exportava açúcar para Portugal.
Por essa razão, a pedra também é conhecida como Falso Pão de Açúcar.
Segundo registro de uma carta náutica, datada do final do século XVI, o local era
indicado como Alto Mourão, uma vez que Duarte Martins Mourão emprestou seu nome
para identificação da pedra que estava localizada nas terras de sua sesmaria, concedida
por Salvador Corrêa de Sá, em 15 de novembro de 1590, abrangendo terras
correspondentes ao atual distrito de Itaipuaçu.
Charles Darwin esteve na Fazenda Itaocaia, em 1832, a bordo do Beagle,
participando de uma expedição do governo britânico. Segundo o pesquisador, “depois de
havermos atravessado terras cultivadas embrenhamo-nos por uma floresta cujos recantos
eram de inexcedível grandiosidade. Ao meio-dia chegamos a Ithacaia (Itaocaia), pequena
aldeia situada numa planície. Em torno da casa principal ali existente, viam-se as
choupanas dos negros” (DARWIN, 1832, p. 38). Nessa viagem tomou conhecimento das
beachrocks, em Jaconé, que são vestígios de antigas praias que existiram na região.
O viajante naturalista inglês John Luccock, integrante de uma expedição de
conhecimento e política, esteve em Maricá no ano de 1813 e visitou a região de Itaipuaçu.
Luccock relatou a existência de ilhas e descreveu a fauna e a flora local.
As Ilhas Maricá, que compõem o litoral, constituem-se em um pequeno
arquipélago, composto por duas ilhas e três ilhotas, cujo acesso acontece pelo Jardim
Atlântico. São denominadas de: Maricá (ou Principal), Anexo, sendo as ilhotas chamadas
de Calhau e Criolas. Essa formação é o topo de uma cadeia de montanhas submersas há
milhares de anos, atraindo turistas e visitantes com sua beleza e vista paradisíaca.
Foi através do oceano Atlântico que chegaram os frades beneditinos, consolidando
a presença da Igreja Católica na região por meio da fundação da Fazenda São Bento, no
ano de 1635, na região de São José do Imbassaí, dando início a núcleos de povoação. Ao
longo do litoral, construíram currais, destinados à criação de animais, visando o
abastecimento do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro.
Vários naufrágios ocorreram no litoral maricaense, como o de um navio de
passageiros, que ocorreu no século XIX, próximo à restinga, na altura de Zacarias. Todos
os passageiros foram salvos, mas um deles, um português Thomé Ávilla da Costa,
preferiu permanecer na localidade. Dizem que era devoto de São Zacarias e, por isso, teria
inspirado o nome da localidade.
Outro naufrágio envolveu a embarcação Moreno, no ano de 1874, que
transportava passageiros e sacas de café. Apesar de encalhar nas pedras na enseada das
Ilhas Maricá, todos os passageiros e tripulantes foram salvos. Conta-se que os destroços
podem ser vistos nas Ilhas Maricá, através de mergulho.
Nos dias atuais, a posição de Maricá, limítrofe ao oceano Atlântico, possibilitou
sua inserção na rota do pré-sal, pois está situada na Bacia de Santos, ocasionando no
desenvolvimento econômico da cidade.
Podemos perceber a riqueza histórica e ambiental de Maricá, alimentada pelas
águas do oceano Atlântico, marca identitária do nosso município, com a imensidão de
suas belas praias e paisagens.

Vista do oceano Atlântico em Maricá
(Fonte: Internet)
Farol de Ponta Negra
(Fonte: Internet)
Ilhas Maricá
(Fonte: Internet)
Ilhas Maricá e o naufrágio da embarcação Moreno
(Fonte: Internet)
Mapa de Maricá, com destaque para o litoral
(Fonte: Prefeitura Municipal de Maricá)

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