Bambuí: Uma ponte entre o passado e o presente

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Acervo: Historiadora Maria Penha de Andrade e Silva

Bambuí é um bairro do município de Maricá, que se encontra localizado no 2º
distrito. A toponímia tem sua origem na existência em abundância na região dos
bambus imperiais, uma planta muito comercializada no século XIX, utilizada na
construção de cercas vivas, uma vez que podem medir cerca de 12 metros de altura.
Acredita-se que a planta tenha sido introduzida na época da ocupação colonizadora
portuguesa.


No século XIX, o povoado de Bambuí se estabeleceu nos arredores da Fazenda
Guarapina, também conhecida como Fazenda de Bambuí. A comunidade, de forma
geral, vivia do artesanato de bambus, que era transportado em burros até a Estação de
Trem de Manoel Ribeiro para comercialização na localidade de Niterói.


A propriedade rural estava situada em um local privilegiado, próximo ao Oceano
Atlântico e ao sistema lagunar, especificamente na margem correspondente à Lagoa de
Guarapina. Sendo Maricá uma localidade conhecida pelos grandes latifúndios que se
dedicavam à produção agrícola, a citada fazenda tinha sua produção voltada para a
cana-de-açúcar, café, milho, laranja, feijão e farinha de mandioca.


Alguns visitantes europeus, os naturalistas príncipe Maximiliano Wied-Neuwied
e o botânico Friedrich Sellow, hospedaram-se na fazenda, cuja denominação antiga era
Fazenda Guarapina, sendo recebidos pelo Alferes José Gomes da Cunha Vieira, o
proprietário da fazenda à época, um grande estudioso e admirador da história da Europa
antiga. Conta-se que eles conversavam acerca das culturas populares do continente
europeu e americano, juntamente com os moradores do povoado. O episódio foi narrado
no livro do naturalista, intitulado “Viagem ao Brasil”, desenvolvido entre os anos de
1815 a 1817.


Entre as diversas narrativas transmitidas de geração a geração por meio da
história oral, a narrativa do lobisomem foi a que mais chamou atenção ao longo dos
anos. No Brasil, a lenda foi trazida pelos portugueses e possui diferentes versões de
acordo com cada região. Em Bambuí, segundo uma delas, era um homem que se vestia
com uma capa e colocava uns panos na boca para ficar parecido com o animal,
objetivando assustar as pessoas durante a noite, ficando escondido nos bambus
imperiais que existem no bairro. Outra versão diz que os meninos, quando fazem 13
anos, podem se transformar em lobisomem, sendo metade homem e metade lobo, sendo visto, inclusive, por pescadores da região, em noites de lua cheia.


Uma prática em Bambuí eram as caçadas nas altas montanhas cobertas de matas
que circundavam o vale coberto de canaviais. Em uma dessas caçadas, no cotidiano
bucólico local, o morador Fernando Henriques de Farias alertou que andava desconfiado
de que todas as noites de luas cheias suas galinhas começaram a sumir e seu cachorro
farejou algo no mato e começou a latir sem parar. Foi quando o sr. Fernando entrou no
bambuzal e achou só penas e ossos. Então, disse: “Foi o Lobisomem eu vi, meio lobo,
uns pelos ralos e a boca cheia de penas. O bicho olhou para mim com aquele zoião
vermelho e arrenganhou uns dentes amarelos”. Todos acharam por bem chamar o Padre
Manoel Henriques de Faria para abençoar o galinheiro, pois dizem os antigos que o
lobisomem corre sete povoados quando se transforma.


Vale destacar que o Morro do Bambuí representa, atualmente, uma das áreas
mais importantes de Refúgio da Vida Silvestre em Maricá. De acordo com o Plano de
Manejo municipal (2013, p. 44), “é um conjunto de elevações arredondadas e baixas,
com altitude máxima de 172 metros, situado entre o baixo curso do rio Doce-
Caranguejo e a Estrada de Bambuí, a leste e oeste, e a Lagoa de Guarapina ao sul”.


Diante disso, a obra “Memória, história e historiografia”, de Fernando Catroga
(2015), ajuda na reflexão de que a memória é narrada na linguagem pública, que circula
no cotidiano, sendo um ato de recordar por parte dos sujeitos de uma localidade e uma
forma de permanência dos fatos históricos no tempo presente, através da transmissão
geracional por meio da oralidade. Por essa razão, é de suma importância a valorização
da história oral para o conhecimento da história de Maricá, pois incentiva o
desenvolvimento do sentimento de pertença e valorização em relação ao município por
parte da população.

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