A Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria de Cidade Sustentável, recebeu nesta sexta-feira (23/06) cinco de um total de dez câmeras, que vão permitir a ampliação do monitoramento da fauna e identificar a presença de onças-pardas e outros animais silvestres ameaçados de extinção no Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Maricá. Com a doação, o município passará a ter 13 câmeras, que funcionam como armadilhas fotográficas para reforçar o quantitativo de equipamentos existentes e que já capturaram imagens de diversos animais, como o gato-maracajá (Leopardus wiedii). Esse felino selvagem, pouco maior que um gato doméstico, com manchas pretas como uma onça-pintada, também era considerado extinto na região costeira, seu antigo habitat.
As câmeras integram o Projeto Onças Urbanas, uma cooperação técnica entre o Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o BioParque do Rio de Janeiro. Além do Revis de Maricá, os equipamentos também serão instalados em áreas do Parque Estadual da Pedra Branca, no Rio de Janeiro, e Parque Estadual da Serra da Tirirca, em Niterói.
O subsecretário de Cidade Sustentável, Guilherme Di Cesar, destacou a preservação ambiental do Refúgio de Vida Silvestre, que atrai uma diversidade de animais.
“Estou muito empolgado com esse estudo. Isso demonstra a qualidade das nossas Unidades de Conservação Municipal, que já têm mais de dez anos de criação, sendo uma das mais preservadas do Estado do Rio de Janeiro. Que possamos acompanhar, fazer um monitoramento futuro e conhecer as características e os hábitos da espécie. É um trabalho promissor e tem tudo para elevar as nossas Unidades de Conservação a um patamar muito alto em comparação aos outros municípios do estado”, afirmou.
Projeto Onças Urbanas
Lançado oficialmente há duas semanas, o projeto Onças Urbanas foi motivado após o aparecimento da onça parda (Puma concolor) ou suçuruna no fim de 2021 na região de Maricá e chamou a atenção de pesquisadores. A espécie era considerada extinta há mais de um século na área litorânea, onde foi flagrada por armadilhas fotográficas. Segundo maior felino do Brasil, a suçuarana é menor apenas que a onça-pintada.
Coordenador do projeto, o biólogo e pós-doutor em ciências ambientais e florestais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Izar Aximofi, explicou o objetivo da pesquisa. “Essas câmeras vão ficar nas unidades de conservação e vão servir para identificar se tem caçadores na área, cachorros ou gatos domésticos. Estamos procurando entender quantos animais, qual é a quantidade de presas para a onça-parda que tem naquele local e se ela está ocupando outras unidades de conservação, quantos são e como eles estão se alimentando”, esclareceu.
Além do monitoramento da fauna, o projeto tem o intuito de fazer um trabalho de educação ambiental com a comunidade do entorno. “Vamos nas sedes das unidades ministrar palestras, visitar escolas, ter o ‘Dia da Onça Parda’ e o ‘Dia do Biólogo’ com os moradores. Além disso, haverá orientação aos proprietários das residências rurais que têm criação de galinhas para minimizar a chance de a onça atacar”, disse.
Armadilhas fotográficas
A armadilha é uma câmera fotográfica que é ativada por um sensor de presença. O animal passa na frente da câmera, o sensor identifica e dispara a foto ou vídeo. Elas funcionam com oito pilhas recarregadas, são instaladas nos troncos das árvores e vistoriadas uma vez no mês, dependendo da sequência do disparo. O intuito é distribuir os equipamentos em pontos estratégicos do refúgio para captar, além das imagens de onças-pardas, registros de animais como o macaco bugio, que aparece com frequência na região. Se necessário, os profissionais abrirão novas trilhas para controle total da área.
Refúgio de Vida Silvestre de Maricá
Com uma área de proteção integral de nove mil hectares, extensão maior que a do município de Armação de Búzios, na Região dos Lagos, e duas vezes maior que o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, o Refúgio de Vida Silvestre de Maricá (Revismar) abriga hoje mais de 170 espécies de animais, entre mamíferos, aves e roedores, em uma área que corresponde a 25% do total da cidade.
Por meio do projeto Monitoramento da Fauna (Mofama), a Secretaria de Cidade Sustentável levanta dados que são utilizados em pesquisas sobre as áreas naturais protegidas da cidade. Além disso, sua finalidade é também de avaliar a efetividade das áreas naturais protegidas para a conservação da biodiversidade por meio de apanhamento e análise contínua das tendências populacionais de diferentes espécies.
O monitoramento já identificou a presença de diversos animais silvestres no município, entre eles quatis, tamanduá, sagui, cachorro-do-mato, gambás, pica-pau, jacu (ave) sabiás, morcegos, lagartos, entre outros.
O refúgio natural, onde a onça foi flagrada, fica localizado nas Unidades de Conservação da cidade – também compostas pela Área de Proteção Ambiental Municipal das Serras de Maricá, o Monumento Natural Municipal da Pedra de Inoã e o Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia.