Um gigante do mundo do samba
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Nascido em Marechal Hermes, Rio de Janeiro, Claudinho Guimarães entrou para mundo da música aos 14 anos quando começou a tocar pandeiro. Talento herdado da mãe dona Gina que cantava em churrascarias na noite carioca e do avô materno Manoel que era pandeirista e do primo Edinho, cavaquinista e violinista. Mas foi aos 15 anos, que o filho único de dona Gina, trocou o pandeiro pelo cavaquinho e nunca mais se separou do instrumento de corda.
Entrou para escola de música Villa Lobos e começou a aprimorar o canto e a teoria musical, o que lhe fez amadurecer como artista. “Ele foi autodidata com o cavaquinho e contava que quando chegou a escola o professor disse que ele estava pronto e teria pouco a aprender lá”, conta a esposa.
Ao iniciar sua trajetória de compositor conheceu parceiros do samba como Serginho Meriti, Tiago Mocotó, Evandro Lima e muitos outros. Foi devido aos estudos e a essas parcerias que Claudinho fez sua carreira profissional decolar. Primeiro se tornou cantor solo e começou a produzir sua discografia, que começou com o CD Luz do Criador – 2009, com produção do parceiro Evandro Lima. Em 2013 veio o segundo álbum, com produção do Rildo Hora. “Em 2000 o Zeca Pagodinho gravou um samba dele e Claudinho ficou todo animado, passando a se dedicar a isso. Estava gravando o 3º Cd autoral e terminando um áudio visual também autoral. Claudinho tem muitas músicas inéditas que não foram gravadas”, diz Cristiane Janeiro, esposa com artista.
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Anos mais tarde, iniciou a carreira de músico oficialmente e rapidamente passou a integrar importantes projetos musicais no bairro da Lapa, Rio de Janeiro, um dos redutos do samba carioca. Lá, cantou ao lado de grandes nomes como Arlindo Cruz, Almir Guineto, Monarco, Nelson Sargento, Jovelina Pérola Negra e outros.
Claudinho chegou a gravar um LP pela gravadora Continental quando integrou o grupo “Força da Cor” e passou por vários grupos musicais até se apresentar no Terreirão do Samba em 1990.
O violonista e arranjador Paulão Sete Cordas estava trabalhando no último projeto do artista. “Claudinho tinha me pedido alguns arranjos para as músicas dele e eu fiz. Tínhamos combinado de gravar na terça-feira, dia 16 de junho, mas infelizmente ele faleceu no fim de semana. Claudinho era um compositor maravilhoso, uma pessoa espetacular! Sempre a frente de movimentos culturais de Maricá”, comenta.
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Claudinho Guimarães também marcou presença na terceira edição do Quintal do Pagodinho, lançado em 2016. Compôs muitos sambas que ganharam fama na voz de grandes nomes como Beth Carvalho, Alcione, Zezé Mota, Xandy com o Revelação e Leandro Sapucahi, que fez um CD com diversas canções do artista e tantos outros.
O cantor Diogo Nogueira prestou homenagem a ele em uma live, cantando um de seus sambas de maior sucesso. “Claudinho era um cara incrível. Um grande compositor e o samba perde um grande compositor, super jovem. Tive a oportunidade de conviver com ele em alguns momentos e gravá-lo. Para o mundo do samba é uma perda muito grande”, falou.
A esposa do sambista, Cristiane Janeiro nos contou um pouco da história de vida de Claudinho e sua relação com a música e com Maricá que começou no primeiro ano de mandato do Quaquá na prefeitura. “Em 2009 o carnaval foi com muitos sambistas conhecidos e ele veio acompanhando. Logo depois ele começou o projeto Samba Boteco da Secretaria de Turismo, que foi um sucesso e seguiu trabalhando aqui”, conta.
Em 2017, foi responsável pela parte musical da Casa Brasil Espraiado que resgatou a cultura do samba em Maricá, sendo a primeira casa de samba de raiz do município com a participação de grandes nomes do gênero e artistas locais, tudo comandado por Claudinho.
Claudinho também esteve envolvido em muitos projetos sociais e o mais recente foi como coordenador da oficina de música no Projeto Cultura de Direitos da Secretaria de Direitos Humanos. “Claudinho foi peça fundamental desde o começo. Ele tinha um talento incrível e sempre teve a visão da importância de socializar o conhecimento da arte e fez isso com muita maestria. A simplicidade com que ele agia com as crianças, adolescentes, idosos é algo a ser seguido. Tinha um carinho enorme pela cidade. Vendo a integração do projeto com as outras oficinas, ficava mais feliz. Ele realmente estava nesse momento da vida se realizando. Claudinho deixa um vazio em nossos corações. Maricá foi presenteada quando Claudinho veio para cá e por todos os lados que ia leva o nome da cidade. O programa vai continuar e vamos fazer uma homenagem a ele no final do ano com uma apresentação com os alunos tocando”, diz o secretário da pasta, Birigu.
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Ele também tinha iniciado o projeto “Quero Samba”, que ocontecia quinzenalmente em espaços culturais do município, mas foi interrompido devido à pandemia.
A história de Claudinho com a cidade parecia estar escrita. Quando conheceu sua esposa Cristiane, que é diretora de escola do município há 10 anos, o artista não morava aqui. Apesar de ter se apresentado no carnaval e começado a trabalhar em projetos, foi em 2016 que escolheu a cidade para viver. “Nos conhecemos em 2013 no sítio Lua Branca da Mônica Mac, em Niterói. Ela fazia uma roda de samba lá uma vez por mês e eu estava quando ele foi fazer uma participação. Trocamos olhares e ficamos naquela brincadeira, mas não chegamos a trocar nenhuma informação nem telefone”, relembra. E um tempo depois, uma amiga que trabalhava com ela na escola de Inoã a convidou para ir em sua casa porque seu marido, Amarildo, ia receber o Claudinho pois estavam fazendo juntos o samba enredo da Grande Rio sobre Maricá. “Fiquei muito surpresa porque desde o contato no sítio nunca mais havia falado com ele e nem tinha notícias de onde ele estava. O Amarildo foi quem fez a ponte e a partir dalí começamos a namorar e logo em seguida casamos. Moramos em Niterói por um tempo e no ano do nascimento da nossa filha, Íris, viemos morar em Itaipuaçu”, diz.
A última participação musical dele na cidade foi na live de aniversário de Maricá, em 26 de maio. Ele chegou a compor uma música homenageando os profissionais que estão à frente do combate ao Covid-19 e falou sobre isso na época. “Tinha feito uma música falando do médico e do enfermeiro. Aí uma amiga de Facebook, que é motorista de ambulância, veio no privado e falou: Eu não quero me meter não, mas tem tanta gente que trabalha nessa área também. Aí eu parei embaixo do pé de pitanga e consegui fazer uma música e colocar bastante gente”, comentou o sambista que alterou a letra para incluir não apenas os profissionais de saúde, mas também todos os trabalhadores que saem de casa em meio à pandemia para garantir atendimento às pessoas que precisam.
E no dia 14 de junho de 2020, que a voz marcante de Claudinho se calou. O grande cantor e compositor passou mal em sua casa, em Itaipuaçu, e sua esposa conseguiu levá-lo ao Posto de Atendimento de Urgência, mas ele acabou falecendo. Foi um grande susto para todas as pessoas que conheciam Claudinho que sofreu um infarto fulminante deixando a todos que o estarrecidos. “O mundo do samba está de luto com a passagem de Claudinho Guimarães “, postou Zeca nas redes sociais ao saber sobre o falecimento.
Claudinho, muito querido por todos os amigos e também pela redação da Maricá Já, era aquela pessoa que sempre trazia uma energia positiva e um sorriso no rosto, deixando mais alegre o dia de todos que cruzavam seu caminho. Um cara com o coração tão grande que se refletia em seu talento como músico e compositor. Um pai e avô amoroso, que parte deixando quatro filhos: a caçula Íris e os filhos adultos Bianca, Bruno e Beatriz. Avô da Isabela e estava na expectativa do nascimento do primeiro neto da sua filha Beatriz que entrou em trabalho de parto no momento que soube do falecimento do pai, que acabou nascendo no dia seguinte ao seu falecimento.
Mesmo com as restrições devido a pandemia, sua esposa Cristiane conseguiu com a ajuda de outros músicos da cidade realizar o último desejo do marido. “Ele sempre falava que queria em seu enterro muita festa com cerveja e samba. E junto com os meninos consegui fazer”, disse saudosa. E, “Quando a Gira Girou”, um dos seus mais conhecidos sambas cantado pelos amigos em frente ao velório, ilustrou perfeitamente o dia da despedida, que amanheceu nublado.
Maricá entrou em luto. Não só os cidadãos, mas naquele dia o céu também chorou com a perda do artista. A Maricá Já deixa aqui sua homenagem à essa lenda do samba. Claudinho deixa um legado e muitas saudades.
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Fotos: Divulgação