O MST e os projetos revolucionários  do movimento em Maricá 

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Foto: Evelen Gouvea

A produção sustentável de alimentos livres de agrotóxicos nas hortas comunitárias em áreas urbanas do município está transformando o cenário e a realidade de Maricá, tornando a cidade uma referência em políticas públicas de apoio à agroecologia mas poucas pessoas sabem que há um movimento muito importante por trás de diversos projetos na cidade: o MST.

O Movimento Sem Terra nasceu no final dos anos 70, com a necessidade dos trabalhadores de buscarem locais para a produção rural, e acabou se inscrevendo na história do Brasil, acompanhando a organização de posseiros e acampados. Na primeira metade dos anos 80, no entanto, o movimento passou a ter uma estrutura organizativa e fez uma adaptação em seu nome, tornando-se conhecido, como “Movimento dos trabalhadores rurais sem terra”. Mas foi a partir de 1997, com a marcha nacional pela reforma agrária com destino à Brasília que ele se consolidou.

Atualmente, o “Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra” (MST) está organizado na maioria dos estados brasileiros e tem um trabalho importantíssimo na produção, distribuição e, consequentemente, na discussão dos alimentos saudáveis, justamente porque o setor de produção, cooperação e meio ambiente realizam um trabalho por inúmeras cooperativas de produção, comercialização e agroindústrias, principalmente na Região Sul, onde muitas delas se destacam. É importante lembrar que no Rio de Janeiro, o MST está organizado desde o início dos anos 90 em várias regiões. São elas: Norte Fluminense, Região dos Lagos e Baixada Fluminense, além de Minas Gerais, do Espírito Santo e de São Paulo.

A iniciativa do MST nas cidades, como em Maricá, busca incentivar os moradores a conservar o meio ambiente e aproveitar com qualidade os espaços disponíveis com o cultivo de hortaliças e verduras, como couve, alface, salsa, cebolinha e temperos. Além de combater a fome, as hortas urbanas alimentam sonhos e esperanças, colocando na mesa de quem mais precisa um prato cheio de saúde, solidariedade e respeito.

Atualmente, a Prefeitura colhe os frutos de ser reconhecida como cidade agroecológica, mas incentivar a produção de alimentos orgânicos com técnicas que preservam o meio ambiente não é uma coisa nova. 

Como iniciou?

Um dos grandes nomes do movimento é o utópico Joaquín Piñero que, à frente do escritório nacional e, por intermédio de seu companheiro Neiva, acabou conhecendo um cara visionário, idealista, que via além de sua época e que ocupava o cargo de prefeito de Maricá, uma cidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O nome dele é Washington Quaquá. Eles se identificaram.

Foi assim, em 2016, que uma parceria foi iniciada entre a Prefeitura de Maricá e o MST: o “Projeto Popular Maricá com Soberania Alimentar”. Começaram então a ser realizadas no território maricaense, várias ações de desenvolvimento da agroecologia como a Unidade Agroecológica do Manu Manuela (São José do Imbassaí). Depois vieram as capacitações com moradores e os alunos que estudavam nas escolas municipais e a cidade não parou mais. Maricá tem se proposto a fazer parte dessa produção de alimentos e a garantir a segurança e soberania alimentar objetivando, cada vez mais, a qualidade de vida dos seus cidadãos.

Brigada Nacional Joaquim Piñero

A Brigada Nacional Joaquim Piñero parte desse movimento que vem resistindo ao longo dos seus quase 40 anos e é um instrumento que o MST tem colocado à disposição da solidariedade com a classe trabalhadora. Ela tem esse nome como uma forma de homenagear um grande companheiro, o saudoso Joaquín Piñero, militante que dedicou parte de sua vida à luta e à construção da utopia.

Para que a Brigada se enraizasse na cidade foi necessário um ano e meio de ações concretas na agroecologia, mas aos poucos ela foi absorvendo outras linhas de atuação como o “Sim, eu posso”, um método de alfabetização de jovens e adultos em massa e no resgate da memória agrícola. Ou seja, seu trabalho parte de projetos que dialogam nos diferentes contextos, na agricultura urbana, na periurbana, hortas comunitárias e outras iniciativas que têm esse desafio da produção de alimentos.

Vale ressaltar que a gente vive numa situação total de insegurança alimentar. São cerca de 33 milhões de pessoas nessa situação em que a produção de alimentos se faz urgente e necessária.

SIM, EU POSSO 

Maricá deu início ao projeto “Sim, eu posso”, criado com o compromisso de alfabetizar 2.700 pessoas a partir de 15 anos de idade.

 A iniciativa foi referência contra o analfabetismo em Cuba, é realizada em Maricá em parceria entre o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) e a Secretaria de Economia Solidária, apoiada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O projeto foi iniciado com treinamento e capacitação das equipes.

O “Sim, eu posso” é uma busca ativa das pessoas que são analfabetas ou aquelas que são analfabetas funcionais, e tem o objetivo de resgatar as capacidades de compreensão do mundo por meio da leitura, da escrita e, inclusive, do seu papel enquanto cidadão na sociedade.

  Ao todo, serão 180 instrutores capacitados para alfabetizar em sala de aula. Para os alunos, serão disponibilizadas 2.700 vagas. A formação terá duração de um ano e atenderá pessoas a partir de 15 anos, sem limite máximo de idade.

Horta em casa

O projeto Horta em casa é um projeto de assessoria técnica, e organização da produção no contexto urbano e periurbano, hortas coletivas, com acompanhamento técnico que equipes organizadas pelo MST.

Segundo Maria Gomes, coordenadora da brigada do MST em Maricá, o projeto consiste na formação em agroecologia que tem como objetivo o fortalecimento e resgate da memória agrícola, organização coletiva, cooperativa, grupos coletivos, no fortalecimento da economia solidária, agroecologia entre outros temas pertinentes no contexto do projeto que passa por toda a cidade de Maricá.

Por Elaine Nunes (matéria publicada na edição 99 da Revista Maricá Já)

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