Diversas atividades marcaram as comemorações do Dia da Consciência Negra na última terça-feira (20/11), em Maricá. Debates, roda de capoeira com Mestre Dico, shows, desfile afro, esquete teatral e baile black foram algumas das atrações realizadas no Cinema Público Municipal Henfil numa parceria entre as secretarias de Cultura e de Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher.
Para abrir o evento, foi servido um café afrocolonial, com direito a canjica, arroz doce, milho cozido e variados tipos de bolos e sucos. Logo em seguida, houve a exibição do filme “Benta a Escrava de Itaocaia”, produzidos por alunos da oficina de teatro, realizada em Maricá em 2017 pela Secretaria de Cultura. O curta-metragem narra a lenda do envolvimento da escrava Benta com o dono da fazenda de Itaocaia e o desenrolar da história com a descoberta dessa traição por sua esposa.
Já para a apresentação de documentos históricos, como o mapa, as despesas e os impostos da transação de escravos, a arquiteta da Secretaria de Cultura, Renata Gama, e o historiador e coordenador do Museu Histórico de Maricá, César Brum, apresentaram a palestra “Escravidão Africana de Maricá”. Segundo a arquiteta, de 1568 a 1859, 3,5 milhões de homens foram trazidos da África para o Brasil na condição de escravos. Para o César Brum, todos nós somos reflexos dessa época da escravidão. “Temos uma dívida impagável com esse povo, que apesar de ser considerado minoria em nosso país, 60% da nossa população é descendente de negros que não são valorizados como deveriam”, declarou o coordenador.
Outro momento de extrema importância no evento foi a posse dos membros do Conselho Municipal da Diversidade Racial. Ao todo, são 40 conselheiros, sendo 20 efetivos e 20 suplentes, divididos entre sociedade civil e representantes do governo para o mandato de 2018 a 2020. O atual presidente do conselho, criado em 2010, Joel Rocha da Silva, destacou a importância do órgão para a criação e discussão de políticas públicas para os negros, índios e ciganos. “Somos um instrumento de organização e controle das ações direcionadas para esse público. Uma das nossas metas é a elaboração do Estatuto Municipal de Igualdade Racial”, explicou.
Já na parte da tarde, foi realizada uma mesa de debates com o tema “Como garantir e ampliar as políticas públicas já conquistadas, considerando os 130 anos da abolição da escravidão”, para discutir sobre as desigualdades raciais. O debate contou com a mediação do coordenador do Fórum LGBT, Carlos Alves, de Ricardo Teixeira, presidente da Unegro de Maricá (União de Negros pela Igualdade), de Geraldo Bastos da MNU (Movimento Negro Unificado) e de Wavá de Carvalho, da Secretaria de Cultura.
Para o representante da MNU, que é morador de Nova Iguaçu, é necessário se repensar na transformação de todo sistema para que realmente haja mudança nos valores da sociedade. “Os resquícios da escravidão e do racismo perduram até hoje. Não podemos tolerar a morte de jovens, como ocorreu no Minha Casa Minha Vida de Itaipuaçu. Por exemplo, Nova Iguaçu é uma das cidades que mais se mata homossexuais negros”, exemplificou Geraldo Bastos. Já para o presidente da Unegro de Maricá, o racismo é estrutural e a luta contra ele tem que ser constante e de todos, não apenas dos negros. “Nossas politicas precisam ser fortalecidas. Hoje, temos 13 milhões de desempregados, a juventude negra está marginalizada na favela, está sendo assassinada e com baixos salários. Tudo isso é reflexo do racismo e da desigualdade racial”, declarou Ricardo Teixeira.
Em seguida, os artistas Alex Bacelar e Maurício de Souza apresentaram a esquete “Navio Negreiro”, um projeto experimental apresentado pela segunda vez no Cinema Público, que utiliza performance teatral e correntes para lembrar o sofrimento dos escravos. A moda afro também esteve presente com o desfile de diversas peças masculina e feminina criadas por Marisa Ferreira, ressaltando o colorido e a diversidade da cultura negra.
Para a secretária de Cultura, Andrea Cunha, o evento é extremamente importante para debater e abordar os diversos aspectos da cultura negra, seja por meio da música, culinária ou teatro. “A cultura tem papel fundamental no fortalecimento dos direitos humanos, de criação de identidade que perpassa por diversos segmentos. Temos que festejar e empoderar uma grande parcela da população, com o objetivo de defender o direito de todos”, declarou.
Fotos: Elsson Campos
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