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Leia a nossa última edição

“Cidade enamorada, da paisagem tropical”:Maricá no tempo e na história

Equipe de Pesquisa:
Maria Penha de Andrade e Silva – Historiadora
Renata Gama – Arquiteta Urbanista
Renata Toledo Pereira – Mestre em Educação

Aproveitando que o nosso município acabou de comemorar 206 anos de
emancipação político-administrativa, conquistada em 26 de maio de 1814, quando foi
elevado à categoria de Vila. Vamos conhecer um pouco mais de sua história?
De modo a facilitar nossa viagem no tempo, iremos recorrer às divisões utilizadas
na história brasileira para fins didáticos e de organização textual – Colônia (1500-1822),
Império (1822-1889) e República (1889 – até os dias atuais) –, tendo em vista o que nos
diz Jacques Le Goff (2014, p. 12), em seu livro A História deve ser dividida em pedaços?,
acerca da divisão da história em períodos: “O recorte de tempos em períodos é necessário à história (…). Entretanto, essa divisão não é um mero fato cronológico, expressa também a ideia de passagem, de ponto de viragem ou até mesmo de retratação em relação à sociedade e aos valores do período precedente”.
Antes da ocupação colonizadora, o território era habitado pelos índios tupinambás,
cuja herança nos explica a origem do nome da nossa cidade. O vocábulo Maricá é de
origem indígena e significa “espinheiro”, uma árvore muito comum na região. De acordo com Macedo Soares, a palavra é uma corruptela de maraca, por causa do som emitido pelas plantas, que se assemelha ao instrumento musical indígena detentor do mesmo nome. Também se acredita que o termo deriva de uma planta muito utilizada pelos indígenas para fazer chá, chamada maricaua.
A ocupação colonizadora teve início no século XVI, a partir de 1534, com a
concessão de sesmarias, durante a divisão política do Brasil em capitanias hereditárias,
sendo a primeira sesmaria concedida a Antônio de Marins (ou Mariz), no ano de 1574.
Em 1584, São José de Anchieta esteve em solo maricaense, realizando, junto com
os indígenas, a pesca milagrosa na lagoa de Maricá, trazendo peixes em abundância para a população local.
Inicialmente, o povoamento de Maricá teve início na região de São José do
Imbassaí, onde se localizava a Fazenda São Bento, fundada em 1635 pelos frades
beneditinos. No local, foi erguida uma capela dedicada à Nossa Senhora do Amparo.
Todavia, o clima insalubre e as febres palustres obrigaram o povoado a se mudar para o
outro lado da lagoa, o que corresponde ao atual centro da cidade.
Os habitantes da cidade são descendentes, em sua maior parte, dos indígenas
tupinambás, de colonizadores portugueses e de escravos, trazidos à força de várias regiões do continente africano, para trabalharem nas propriedades rurais, como a Fazenda São Bento, de Inoã, do Pilar, do Bananal, de Itaocaia, de Bambuí, de Guarapina e de Bom Jardim. Os negros escravizados lutavam para se libertar destas condições, criando núcleos de resistências, denominados quilombos, em terras maricaenses, principalmente nas 2 regiões fronteiriças, de difícil localização, como serras e pedras, buscando segurança para impedir sua captura.
Antes de se tornar Vila, as terras de Maricá estavam localizadas nos aldeamentos
de São Lourenço (atual Niterói), São Barnabé (atual Itaboraí) e São Pedro dos Índios
(atual São Pedro da Aldeia).
No século XIX, Maricá vivenciou um período de prosperidade econômica, devido
à chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, que possibilitou a abertura dos portos às
nações estrangeiras e fomentou o comércio com as regiões vizinhas, diante do aumento
populacional. O declínio também atingiu a cidade, que teve suas prósperas fazendas
fracionadas, fruto da partilha de heranças e da má fase da agricultura, consequente das
mudanças significativas no cenário brasileiro. Considerando o desenvolvimento da
população, o príncipe-regente D. João elevou o povoado à categoria de Vila de Santa
Maria de Maricá, em 26 de maio de 1814.
Em meio aos tempos prósperos, o comércio era tão importante para a economia
na região, que os negociantes pressionaram politicamente o governo imperial e obtiveram a construção da Estrada de Ferro Maricá, para realizar o transporte das cargas em menor tempo e com maior segurança. A construção da ferrovia era uma possibilidade para alcançar a prosperidade econômica da região, e uma forma de conduzir a localidade rumo ao progresso, uma vez que o trem era “um símbolo de modernidade”. A proximidade da capital do país funcionava como elemento amplificador desse desejo.
Para viabilizar este projeto, uma comissão foi formada por membros da localidade
que partilhavam este sonho e detentores de capital para investir em sua realização. Em
1889, os primeiros trechos, em território municipal, foram inaugurados na região de
Itapeba e, posteriormente, no ano de 1894, até a estação de Manoel Ribeiro. O Governo
Federal financiou seu prolongamento até Cabo Frio e à Central do Brasil. Entretanto, no
ano de 1964, foram encerradas as atividades da Estrada de Ferro Maricá, sob a
justificativa de inviabilidades técnicas. No entanto, um grupo de políticos da época
afirmava que tal situação era decorrência do interesse no setor rodoviário.
A pesca foi a principal atividade econômica durante muitos anos, sendo comercializada para as cidades vizinhas, como Niterói e Rio de Janeiro, além de ser um importante meio de sobrevivência da população. A conservação do pescado passou a ser feita de forma diferenciada, pois com a rapidez do transporte ferroviário, o peixe pôde ser vendido fresco, ao invés de ser salgado.
Após a abolição da escravatura, no ano de 1888, Maricá sofreu um acentuado declínio econômico, já que era uma localidade essencialmente agrícola, tendo em seu território muitas fazendas produtoras de gêneros alimentícios, como banana, café, anil, laranja, limão, cana-de-açúcar. Neste contexto, a Vila recebeu o status de cidade, em 27 de dezembro de 1889, período posterior à proclamação da República.
Em 1922, o município possuía uma população de 18.037 habitantes. Sua sede era o Centro, que contava com quinze ruas, três praças e duzentos e cinquenta e quatro prédios, conforme dados do imposto predial. Estabelecimentos comerciais, hotéis,
agência dos Correios e Telégrafos, cinema e teatro compunham o cenário.
O local era conhecido pela produção de diversos gêneros agrícolas, farinha, aguardente e pesca. Havia recursos minerais passíveis de exploração: feldspato, mica, 3 pirite e manganês. A pecuária não era um ramo muito explorado pelos proprietários rurais, que não selecionavam os rebanhos.
A cerâmica apresentava notável desenvolvimento, devido à boa argila encontrada em abundância na região, havendo olarias importantes, como a Olaria Inoã e a Olaria “Waldemar”, que exportavam louças, telhas, tijolos, manilhas, vasos, panelas, moringas,
dentre outros produtos.
Ao final da década de 1930, as residências e vias públicas do Centro de Maricá passaram a ser iluminadas por um gerador, movido a óleo diesel. O aparelho funcionava no horário de 18h às 22h30, na Rua Barão de Inoã, sob a responsabilidade de seu “Fio”, apelido de Celestino Gomes. Em 1958, a luz elétrica chegou a Maricá, na gestão do prefeito Dr. Orlando de Barros Pimentel e do presidente da câmara Luís Antônio da Cunha, popularmente conhecido como “Zeca Cunha”. Os bairros do Centro, Mumbuca,
Jacaroá e Itapeba foram beneficiados pelo novo serviço. Foi apenas a partir de 1982 que a energia elétrica teve seu acesso facilitado às parcelas menos favorecidas da população,
ocasionado por programas realizados pelo governo estadual. Cabe ressaltar que a energia influenciou na economia, tanto no modo de conservação dos produtos, quanto na organização do comércio local.
Nas décadas de 1940-1950, o município de Maricá vivenciou mudanças urbanas, educacionais, econômicas e tecnológicas. O período foi precedido pelo fortalecimento do
setor agrícola e pelo surgimento dos primeiros empreendimentos imobiliários, fruto do
parcelamento dos grandes latifúndios. O cultivo do arroz, da banana, da laranja, o
extrativismo mineral e vegetal (lenha e carvão) constituía atividades econômicas importantes.
O município cresceu e mudou para melhor. Hoje integra a Região Metropolitana
do estado do Rio de Janeiro e é a cidade que mais recebe royalties provenientes da
exploração do petróleo. Desde 2009, foram empreendidas ações inovadoras, como a
criação da moeda social Mumbuca e os “vermelhinhos” – ônibus sem custo para a
população –, com investimento em políticas sociais, educacionais e de apoio à ciência –
Passaporte Universitário, Prêmio Novos Pesquisadores –, além da transformação da
cidade, facilitando o acesso a vias que antes eram muito difíceis.
A cidade possui um elevado potencial turístico, com suas serras, lagoas, praias,
pedras, vegetação característica da Mata Atlântica e da restinga, além de parte do valioso Parque Estadual da Serra da Tiririca e uma riquíssima história para contar! Parabéns, Maricá!

Fotos: Divulgação

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