Matéria por Sérgio Fiorini (disponível na revista de outubro de 2022)
Lidia Maria é a empresária e diretora e coreógrafa por trás da companhia de danças que carrega seu nome – Cia das Artes Lídia Maria. A companhia tem de anos de vida o mesmo tempo que leva a formação de um bailarino(a): 7 anos, mas a história de Lidia com a dança começa aos 10 anos de idade dela. “Eu tinha muita asma, então eu tinha que fazer natação e ballet para aumentar a capacidade dos pulmões. Aos 13 anos eu optei só pelo ballet, a natação sempre foi só uma obrigação”, declara.
No ano seguinte, o acaso da vida faria Lidia perder a mãe, e segundo ela, dançar afastou males que seriam muito comuns na situação dela como a depressão, desânimo ou mesmo a tristeza. Motivada pela vocação e paixão, ela se profissionalizaria aos 17 anos, com formação em dança moderna e contemporânea, baller clássico e jazz dance.
“Fui pra faculdade fazer licenciatura em dança, quando eu terminei a faculdade, eu fui morar em Nova York por 2 anos afim de me especializar em dança moderna e contemporânea, ballet clássico e jazz dance na metodologia Vaganova, fazia aula com a Kournikova, professora de ballet russo”, fala a dançarina e empresária.
Ao voltar para o Rio de Janeiro, a dançarina dava aula em 5 escolas diferentes, para manter uma renda suficiente. Quando se casou, ela e o marido compraram uma casa em Itaipuaçu, mas a ficaram um ano sendo veranista, porque ele não animava em abrir uma escola de danças aqui na região.
Durante esse período, Lídia engravidou e teve um filho, mas continuou trabalhando. Só que ela uma segunda gravidez e o seu marido reconheceu que não daria para manter moradia no Rio tendo uma casa própria em Itaipuaçu. Foi assim que eles vieram de vez para Maricá.
“Confesso que fiquei com muito medo de ir pra um lugar novo, Itaipuaçu não era tão desenvolvido, principalmente na área da cultura. Fiquei um tempo, já morando aqui, dando aula no Rio e em Niterói, atravessando serra levando as crianças que muitas vezes dormiam no chão da sala. Eu tive uma gastrite muito forte devido a este stress muito grande: cuidar de criança pequena, atravessar de carro ‘pra lá e pra cá’.
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E foi nesta crise que Lídia teve a iniciativa: “Eu não vou mais trabalhar para os outros, eu vou abrir a minha escola”.
“Você vai morrer de fome se você abrir uma escola aqui, cuidado, será que as pessoaa vão te entender? Você é muito pra frente!” meu marido dizia.
Em 2015 eu abri minha escola de danças aqui, que era bem pequena, no barroco.
“Quando eu tava na escola pequena fomos no nosso primeiro festival: O nacional de Petrópolis. E saímos de lá com 3 premiações”
A escola rapidamente cresceu e logo alcançou uma marca de 100 alunos, que em duas salas pequenas, não teria como manter. Foi então que Lídia veio para sua sede atual, na Av. Carlos Marighella, e mantém esta sede já faz 5 anos.
“Com o tamanho da sala eu consegui fazer com que a progressão dos alunos fosse mais rápida. Numa sala maior você pode saltar mais, girar mais, tudo “mais”. Aí eu ousei mais. A gente que já participava de campeonatos nacionais, passamos a ir aos internacionais.”
“Comecei a participar do festival de dança em Joinville, o maior da américa latina. E pra você participar tem que fazer uma prova, nas duas vezes que tentamos, tivemos êxito e dançamos lá. O meu objetivo era fazer com que Maricá fosse reconhecida no mundo da dança. Em São Paulo, no Rio, ninguém conhecia Maricá a meu ver.”
EVOLUÇÃO DOS ALUNOS
“No início da Cia das Artes eu recebia crianças que dançavam em igreja, então não tinham técnica e me procuram para aprimorar, e no fim acabaram gostando e se tornaram bailarinos profissionais. Algumas crianças que começaram a frequentar aqui costumavam sair da escola e ir pra praia fazer nada, e muito tempo ocioso não costuma ser legal para a cabeça de um jovem, então eles começaram a sair da escola e vir direto pra cá.”
Eles chegam às 14 horas e só saiem quando dá nove horas da noite e segundo a professora, esta constância mudou a vida de vários alunos, inclusive a da sua própria filha que se aprofundou tanto na dança, tomou tanto gosto, que tá seguindo carreira.
“Como eles melhoraram muito, e a gente fez impacto positivo em tantos lugares que a gente viajou e dançou, que eu consegui parceria com a Miami Ballet School, com a America Academy of Ballet e com a Brussell International Ballet Schools, na Bélgica.”
Duas alunas da Cia das Artes foram aprovadas e vão conseguir ir para estas escolas internacionais, no entanto, tem outros alunos que conseguiram a bolsa, mas não tem verba para poder ir. Pela falta de patrocínio, nem todo mundo consegue juntar o dinheiro da passagem para ir.
E isto só mostra a força da escola de Lídia: “a minha escola é falada nos festivais por outras escolas com mais de 30 anos no Rio de Janeiro, em São Paulo. Uma vez até me falaram como Maricá tem uma escola de dança que tem um grupo de neoclássico, de jazz, de contemporâneo e eu não consigo em 30 anos um grupo desses?
E o como é: aqui a gente leva a dança a sério. A gente trabalha com profissionalismo, com dedicação, com competência de todos os profissionais que estão à minha volta. Nós mostramos aos alunos que chegam agora que se você levar a sério, é igual uma profissão como outra qualquer. Você vai ter êxito, precisa trabalhar, precisa da dedicação e comprometimento,
Aqui na CIA das Artes eu tenho dois alunos que passaram para escola de dança maria olenewa, a escola de artes do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Eu tenho 9 alunos que passaram para Miami, 10 que passaram para Nova Iórque e 5 que passaram para bélgica. Eu tenho um aluno que passou para a escola de dança Deborah Colker recentemente como bolsista integral que faz aula lá e aqui.
“Os alunos que conquistam algo saindo daqui eles não perdem sua base, eles continuam aqui comigo.”
A Cia Das Artes é um sonho pra mim, é uma chance de formar um cidadão e é poder fazer com que os alunos entendam que o sucesso de um é o de todos. Que esta coletividade é fundamental para o progresso. Não é um que passa ou melhora, e sim o todo. É a concretização de 8 anos de um sonho, uma família, um projeto que deu certo.