Texto da historiadora: Maria Penha de A. e Silva
O carnaval é uma festa popular brasileira e acontece todos os anos, nos meses de fevereiro e / ou março. Em Maricá,
nas décadas de 1960 a 1980, essa prática cultural possuía características específicas, conforme percebemos nas
páginas de diversos jornais da época que retratavam o período.
O “retumbante” carnaval era assim anunciado nas páginas
do jornal “O Fluminense” (edição n. 24.170 / 1962), onde ocorreria uma batalha de confetes na Praça Conselheiro Macedo
Soares com a presença da banda de música “Nossa Senhora do Amparo”. A cidade era ornamentada e iluminada para a realização
dos folguedos, desfiles de blocos e bailes carnavalescos.
Apesar de tantas atrações, eram apontadas algumas dificuldades
para acesso ao município, como o trânsito intenso e a paralisação de ramais ferroviários, pois ainda existia a Estrada
de Ferro Maricá.
Em Ponta Negra, os pescadores preparavam diversas atividades carnavalescas, como blocos e ranchos, que contavam com
a participação da Sociedade Recreativa Filhos dos Pescadores. Existiam ações que objetivavam a criação de uma comissão julgadora
para a escolha dos campeões do carnaval, provavelmente para estimular uma competição entre os blocos (O Jornal, 1962, edição n.12.528). Também era promovido o concurso de Rainha do Verão, que era realizado no domingo de carnaval, na praia de Ponta Negra. A coroação era promovida em um baile de gala no Esporte Clube Maricá (O Fluminense, 1972, edição n. 20.986). Nessa época havia se iniciado a prática de aluguéis de casas, prometendo casas próximas às lagoas e ao centro. Constatamos alguns anúncios, como aquele publicado no Jornal do Brasil, em 1975 (edição n. 302). No final da década de 1980, localizamos anúncio de pousada, indicado uma nova forma de hospedagem (Jornal do Brasil, 1988, edição n. 304). Essa forma atraía a visita de turistas e conquistava futuros veranistas.
Maricá foi intitulada como sede do “carnaval dos carnavais” que, para tal, recebeu atenção e investimento do setor de turismo
para o aumento da fonte de renda local. As baterias dos blocos animaram os foliões, sendo elas pertencentes às seguintes
agremiações: Unidos da Antiga Amizade, Urubus, Choupana, Boi e Esferinhas (Jornal dos Sports, 1976, edição n. 14.072). Já na região de Araçatiba, os foliões tinham o costume de tomar um “banho de mar à fantasia” (O Fluminense, 1978, edição n. 2.404).
Nos anos 1980, pareceu a denominação da festividade como “Maricarnaval” (jornal Luta Democrática, 1981, edição n. 8.141). A agremiação “Esferinhas” teve como tema “Vila de Santa Maria de Maricá”, de autoria de Jorge Ferreira dos Santos e Carlos Fernandes, conhecido como Shangai, que discutia a história da cidade, englobando a presença indígena. O Bloco das Piranhas também animou a festa, ocupando as ruas e entoando os versos “Vejam só / quem está chegando aí / são as piranhas do Bambuí”.
Já em 1989, o bloco Os Peladeiros era responsável pela bertura da folia e desfilava pela Avenida Francisco Sabino da Costa. A bateria era comandada por Zé do Boné, acompanhado de um trio elétrico (O Fluminense, 1989, edição n.26.233). Os clubes de Itapeba, São Pedro e o Esporte Clube eram apontados como preferidos para diversão (O Fluminense, 1978, edição n. 2.415). Outra atividade de lazer que se tornou comum na época foi o acampamento, ou camping, devido à extensão do litoral maricaense. Era possível a montagem das barracas nas praias sem qualquer restrição, uma vez que não havia local específico (Jornal do Brasil, 1987, edição n. 252). Cabe ressaltar que igrejas protestantes acampavam nas escolas para a realização de retiro espiritual durante o carnaval, conforme relatos da Historiadora Maria Penha de Andrade e Silva.
Segundo depoimentos de Marta Cristina Toledo Pereira e Sidney Renato Pereira, que costumavam acampar na Rua 0, na Barra
de Maricá, tendo relatado que vivenciaram momentos memoráveis com demais membros da família. No acampamento eram utilizados
alguns utensílios, como: fogão portátil e gás com botijão pequeno; lampião a gás; mesa desmontável; isopor; televisão a bateria recarregável no carro; tambor para água e churrasqueira.
Eles recebiam apoio de moradores e comerciantes com o fornecimento de água. Aprenderam técnicas de cozimento e de armazenamento
de peixes com os pescadores. Alguns deles possuíam barracas no local, onde vendiam comida e permitiam o uso do banheiro pelos turistas. Compravam pescado com os pescadores da localidade e/ou no Mercado de Peixe, que era localizado no atual Mercado das Artes. A família se apaixonou pela cidade, tornou-se veranista e, posteriormente, fixou moradia em Maricá.
Podemos observar diferentes práticas culturais que foram surgindo ao longo das décadas de 1960 a 1980, durante o carnaval de Maricá, demonstrando evidências de um dinamismo cultural. Algumas práticas sofreram mudanças e ainda ocorrem em meio ao carnaval e outras permanecem nas lembranças de maricaenses e turistas apaixonados pela cidade.
Equipe de pesquisa: Historiadora, Maria Penha de A. e Silva, Arquiteta Urbanista: Renata Gama, Mestre em educação: Renata Toledo


Acervo: família de Renata Toledo Pereira

(Década de 1980 / Acervo da família de Renata Toledo Pereira)