“Se alguém perguntar por mim, diz que eu fui por aí, levando um violão de baixo do braço…”. Esse trecho de um clássico da MPB, composto por Zé Kéti e Hortêncio Rocha, ilustra bem o personagem da nossa matéria: o músico Ronaldo Valentim. Sempre acompanhando de seu inseparável violão, Valentim é figura cativa nos eventos e bares da cidade, levando um repertório muito de bom de música popular brasileira por onde se apresenta.

A história de Valentim com a música começa no interior da Paraíba, na cidade de Taperoá. Lá, ainda criança, ele teve contato com o mundo do circo e se encantou com tudo que viu, especialmente as músicas tocadas por um violeiro. A paixão pelo instrumento foi quase que imediata e em casa, o inventivo Valentim, pegou num pedaço de madeira, arames e improvisou um violão. Passava horas por dia entretido com seu instrumento, tocando sua viola.
“Meu primeiro contato com o mundo da arte foi com o circo. Eu tinha uns 12 anos e me apaixonei pela arte circense, os malabaristas, palhaços, músicos…Em casa, eu improvisava uma lona, construía meus violões de arame de caderno e cabo de vassoura e fazia meu espetáculo”, relembra Valentim.
O moleque levava jeito e percebendo a vocação para ser músico, sua mãe, Rita, o presenteou com um violão de verdade, quando completou 15 anos. Daí em diante ele não parou mais. Autodidata, Valentim passou a se dedicar ainda mais ao estudo do instrumento, ganhando confiança e se descobrindo como músico e artista. Além da música, ele também fazia teatro e declamava poesias, tendo participado de uma peça teatral “O casamento suspeitoso”, do mestre Ariano Suassuna, quando tinha 16 anos.
Porém, nem sempre conseguimos viver dos nossos sonhos, mesmo com dedicação e talento, outros fatores entram nessa equação para que se tenha sucesso ou se possa viver de música. Mas Valentim foi resiliente e nunca desistiu. Aos 18 anos saiu da Paraíba, onde vivia com sua avó, e veio morar com a sua mãe, no Rio de Janeiro. A mãe de Valentim morava no Rio já há muitos anos. Viera para cá em busca de melhores trabalhos, afim de proporcionar uma vida melhor para si e seu filho. Todo mês, enviava uma quantia para ajudar na criação do filho, que ficara na Paraíba sob os cuidados da avó materna.
Chegando no Rio de Janeiro, Valentim se estabeleceu com a mãe no bairro da Tijuca e foi em busca de trabalho. Por muitos anos trabalhou como porteiro em edifícios residenciais. Mas sua veia artística nunca deixou de pulsar. As lembranças do circo em sua cidade natal também não. Valentim então começa a participar de um grupo de teatro e cria um personagem que unia a arte circense e a música: o palhaço Chapinha. Assim, ele começa a trabalhar, nas horas vagas, animando festas infantis, com um repertório lúdico, cheio de cultura popular, que encantava todos. Além de alegrar as crianças, Valentim também levava sua voz e violão para os bares do Rio, em apresentações intimistas de mpb.
“O Rio de Janeiro é uma grande escola para artistas. A cidade pulsa cultura por todos os lugares. Quando cheguei no Rio, conheci um grupo de teatro. Neste grupo eu criei o palhaço Chapinha e trabalhei fazendo eventos infantis durante uns 10 anos”, conta Valentim.
No início dos anos 90, Ronaldo Valentim conhece o músico, ainda desconhecido, Jorge Vercillo, num bar da Tijuca. Os dois viram amigos e Valentim, admirador do trabalho de Vercillo, passa a intensificar seus estudos com o violão e aperfeiçoar seu repertório de canções. Em 1998 ele começa a tocar profissionalmente, levando sua voz e violão aos bares da cidade do Rio. Inserido na cena noturna da cidade maravilhosa, as relações com outros artistas começam a acontecer e novas oportunidades surgem para Valentim.
“Em 2000, fui convidado para participar de um grupo de teatro musical que estava montando um espetáculo sobre Carmem Miranda. A peça era produzida pelo carnavalesco Mário Borriello e nós fomos para os EUA, na cidade de Houston, no Texas, participar de um festival. Ficamos uma boa temporada lá. Foi uma experiência fantástica”, diz Valentim.
Essa viagem mudou a vida de Ronaldo Valentim, pois depois dessa experiência ele decidiu que iria viver de música. E assim fez. Mesmo sabendo das dificuldades, foi à luta, largou o trabalho formal e passou a se dedicar exclusivamente à música.
Nos caminhos que surgiram a partir daí, um deles o levou até Maricá. Em 2004, através do convite do amigo Alexandre Rocha, que tocava no saudoso bar Chão de Estrelas, em Araçatiba, ponto de encontro de artistas da cidade.
“Eu quando conheci Maricá me encantei e resolvi morar aqui. Cheguei em 2004, mas como uma vida muito atrelada ao Rio de Janeiro ainda, como eu ia alguns dias da semana para tocar nos bares”, rememora Valentim.
Além da música, Ronaldo Valentim também é um militante político. Aqui em Maricá, em 2007, ele conheceu Fabiano Horta, que o apresentou ao Quaquá, Zeidan, Sérgio Mesquita e outros atores políticos da cidade. Acreditando no projeto que Quaquá tinha para a cidade, Valentim passa a colaborar com sua arte e militância para que a utopia de Maricá fosse construída.
Com a eleição de Quaquá para prefeito e início do seu mandado, em 2009, a classe artística da cidade começa a se organizar para construir um grande projeto de ocupação da bares, praças e outras áreas públicas com música, poesia e outras artes. Em 2012, junto com Dalva Alves, Jô Borges, Carlos Soares, Amaury Vicente, Sady Bianchin e outros personagens importantes para a cultura da cidade, Valentim participa do projeto “Sob o céu, sob o sol de Maricá”, promovendo cultura pelos quatro cantos da cidade e valorizando os artistas locais.
“Eu, Dalva e Jô Borges fomos os primeiros a iniciar esse projeto. Nós tocávamos na Praça do Flamengo, em Cordeirinho, Inoã, São José. Com o tempo foram chegando novos músicos, entre eles nosso querido amigo Claudinho Guimarães. Foi um período muito bacana. Hoje temos o projeto ‘Pratas da casa’, que é muito importante para o artista da cidade, pois permite que ele se apresente para grandes públicos, abrindo shows para grandes artistas ou, até mesmo, sendo os protagonistas, nos principais eventos da cidade”, diz Valentim.
Um dos sonhos de Valentim é que maricá um dia possa construir uma grande escola de música na cidade, onde crianças e jovens possam aprender, profissionalmente, diversos instrumentos musicais, culminando com a criação de uma orquestra de artistas maricaenses.
Ronaldo Valentim se sente realizado como músico, mas ainda tem sonhos e acredita no poder transformador da música.
“Neste momento conturbado que o mundo inteiro está passando, de muitos embates, ódio e guerras, o artista tem o papel fundamental de sensibilizar e enobrecer o sentimento dos homens através da sua arte”, afirma.






